quinta-feira, 21 de julho de 2011

Centenário revigora originalidade de Marshall McLuhan

A roda é uma extensão do pé, o livro é uma extensão do olho; a roupa, uma extensão da pele, e a internet, uma extensão do cérebro.


O canadense Marshall McLuhan, cujo centenário de nascimento se comemora hoje, formulou esses axiomas há mais de 40 anos, quando nem sinal havia da rede mundial de computadores.

Criou-a ligeiramente modificada, é verdade: usando no lugar de internet o conceito "circuitação eletrônica" e, no de cérebro, "sistema nervoso central".

Graças às profecias sobre o que seria a evolução dos meios eletrônicos, a partir dos anos 1990 o teórico da comunicação saiu do limbo a que fora relegado na década anterior (após a euforia de sua descoberta nos 60/70), virou de novo pop e foi chamado de "santo padroeiro da internet" pela "Wired".

Os cem anos anos estão aí para ampliar a onda.

A recém-criada Ímã Editorial relança "O Meio É a Massagem", livro-jogo ilustrado, publicado por McLuhan em 1967 em parceria com o designer Quentin Fiori e à época lançado também em LP.

A obra já apontava para fenômenos atualíssimos, como a rediscussão do direito autoral e revoltas populares tonificadas por redes sociais.

Como observa no posfácio o editor e tradutor Julio Silveira, o livro "é um apelo para que as pessoas (...) compreendam que estamos entrando em um novo ambiente, deixando para trás a tecnologia sequencial, especializada e categorizante da imprensa e do livro, e penetrando em um novo ambiente, o de liberdade criativa e informação plena garantidas pela 'circuitação eletrônica'".



Autismo

Na América do Norte, foi lançado no fim do ano passado a biografia "You Know Nothing of My Work!" (você não sabe nada sobre a minha obra), de Douglas Coupland (o mesmo de "Geração X"), que incomodou parte da família de McLuhan por associar idiossincrasias do intelectual a tiques autistas.

A universidade brasileira também trata de revigorá-lo. "McLuhan ficou muito tempo proscrito na academia. Até quem achava que o conhecia já tinha esquecido dele", diz o filósofo Andre Stangl, do centro Atopos, da ECA/USP, que em maio passado organizou o seminário "O Século McLuhan".

Ele conta que acadêmicos convidados para o evento tiveram de rever a obra de McLuhan e "ficaram impressionados com a atualidade".

Em novembro, a PUC-RS organiza um seminário internacional de comunicação que tem o pensador canadense como tema e trará ao Brasil Eric McLuhan, filho tido como seu herdeiro intelectual.

Na internet, é claro, encontra-se material à farta: o documentário "McLuhan's Wake");leituras musicais de "O Meio É a Massagem"a página oficial dos herdeiros; o perfil no Twitter das atividades brasileiras (@mcluhan100br).

E a cena de "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" em que ele surge para dizer que um personagem não conhece nada do trabalho dele.

Coincidentemente, acontecem em São Paulo três mostras de arte que, ao expandir os limites da linguagem eletrônica, revelam a abrangência das ideias do canadense. E como ele estaria nesse ambiente que vaticinou: seria blogueiro, usaria Twitter, estaria no Facebook?

"Marshall não tinha paciência para minúcias. Certamente não blogaria nem tuitaria pessoalmente, provavelmente teria alguém para fazer isso por ele. Facebook? Você deve estar brincando", disse à Folha Michael McLuhan, filho do intelectual.


Trocadilho

Para alguns, McLuhan fez de propósito, mas, segundo a família do canadense, o título da obra relançada agora no Brasil deve-se a um erro tipográfico: "The Medium Is The Message" [o meio é a mensagem] saiu da gráfica como "The Medium Is The Massage" [massagem]. McLuhan gostou e deixou como estava.






Fonte: Folha de São Paulo

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