sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Contra diabetes

Um medicamento que reduz a glicose de pacientes com diabetes do tipo 2 não apresenta efeitos colaterais adversos como outras substâncias usadas com o mesmo fim e ainda pode contribuir para a saúde cerebral e do coração. Esse remédio "ideal" está sendo produzido a partir do licenciamento de uma patente da PUCRS pela Eurofarma, um dos maiores laboratórios farmacêuticos do mercado brasileiro. A formulação desenvolvida pelo professor André Arigony Souto,da Faculdade de Química, é à base de resveratrol - molécula comum no suco de uva preta, vinho tinto e plantas. Os testes do medicamento começaram em 2008 e agora há comprovação: o invento da Universidade é capaz de aumentar a biodisponibilidade (absorção) da molécula, que tem rápida perda pelo organismo.

Os estudos feitos com animais de grande porte, minipigs de 70 quilos, mostram ainda que a formulação não é tóxica. Esses suínos foram desenvolvidos por cientistas norte-americanos em 1949 para utilização em laboratório, pois, apesar das semelhanças fisiológicas e morfológicas com o ser humano, o tamanho dos porcos adultos dificultava as investigações.

Os testes pré-clínicos foram feitos nos Laboratórios de Biologia e Desenvolvimento do Sistema Nervoso, de Biologia Genômica e Molecular e de Neuroquímica e Psicofarmacologia, todos da Faculdade de Biociências da PUCRS, e na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Na investigação, usando zebrafish (espécie de peixe ornamental que apresenta o genoma com muitas similaridades ao humano) como modelo experimental, os pesquisadores da PUCRS Carla Bonan e Maurício Bogo constataram que a formulação desenvolvida por Arigony não causou nenhum dano em dois sistemas de neurotransmissão: o purinérgico e o colinérgico. E os resultados são promissores quando estudado o sistema colinérgico, que tem como neurotransmissor mais importante a acetilcolina, molécula sinalizadora de diversas ações, como memória, aprendizagem e coordenação motora. Os peixes expostos ao etanol tiveram os efeitos tóxicos do consumo de álcool revertido quando tratados com o resveratrol modificado (de mais fácil absorção). Nos animais que receberam apenas o resveratrol, não houve alteração.

Carla e Bogo testaram também o impacto no sistema purinérgico - que tem duas moléculas sinalizadoras - ATP e adenosina -, mas não identificaram efeitos. A primeira controla mecanismos relacionados com dor, inflamação, agregação plaquetária, contração muscular, controle da resposta imune, memória e aprendizagem. A adenosina é ansiolítica, anticonvulsivante, indutora do sono e tem ações anti-inflamatórias.

A professora Nadja Schröder realizou testes comportamentais em ratos para investigar se o tratamento com a substância a base de resveratrol afetaria as funções gerais do sistema nervoso e a possibilidade de reverter prejuízos de memória. Foram realizados dois tipos de tratamentos. O agudo consistia na administração de uma dose do medicamento em cinco grupos de ratos normais e aplicação de testes de atividade motora, de memória, de níveis de ansiedade (efeito ansiogênico ou ansiolítico) e de sensibilidade dolorosa após 60 minutos da absorção. O crônico foi ministrado durante 21 dias em oito grupos de ratos, sendo metade normal e metade com déficit de memória. Após 24 horas da última dose, foram realizados os testes de memória.

Os resultados comprovaram que o medicamento desenvolvido por Arigony não altera os parâmetros gerais de comportamento, não tem efeitos adversos sobre as funções no sistema nervoso e melhora a memória nos animais doentes. O resveratrol composto é mais potente que a substância padrão e, com doses menores, é possível alcançar o mesmo efeito. "O resveratrol composto pode ser usado em estudos com pacientes portadores de doenças degenerativas como Alzheimer e até ser aliado no tratamento do declínio cognitivo associado ao envelhecimento", indica Nadja.

Os estudos com seres humanos ocorrerão em São Paulo. Depois dessa etapa, o desafio para a Eurofarma lançar o medicamento é a sua regulamentação. Paralelamente, haverá ensaios sobre a sua eficácia contra o câncer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário