sexta-feira, 17 de junho de 2011

Equilibrando o jogo

Estudo norte-americano sugere que ministrar aulas dinâmicas, com maior participação dos alunos, em cursos introdutórios da área de ciências ajuda a nivelar o desempenho de estudantes recém-ingressos na universidade e que têm diferenças na formação escolar.

O uso de uma metodologia de ensino mais participativa nas universidades pode ajudar a diminuir as diferenças de rendimento entre alunos com formações escolares mais e menos favorecidas. (Tulane Public Relations/ CC BY 2.0)
Ao abrirem suas portas para uma diversidade cada vez maior de alunos, incluindo aqueles provenientes de situações menos favorecidas de ensino, as universidades encontram um desafio: como nivelar os estudantes recém-ingressos, que apresentam diferentes formações escolares?
Pesquisadores da Universidade de Washington (Estados Unidos) avaliaram que aulas mais dinâmicas, com atividades que demandam maior engajamento dos estudantes, são uma forma eficiente e de baixo custo para diminuir as diferenças nos níveis de formação que esses alunos obtiveram antes de ingressar na universidade.

Aulas participativas contam com instrumentos que ajudam a manter a atenção dos alunos e estimulam o debate e a reflexão

Em contraste com as tradicionais aulas expositivas, às quais os jovens, muitas vezes, assistem sem interesse, as aulas participativas contam com instrumentos que ajudam a manter a atenção dos alunos e estimulam o debate e a reflexão.

As aulas incluem, entre outros exercícios, minitestes diários, corrigidos pelos próprios colegas de turma, e jogos de pergunta e resposta sobre textos previamente dados. Uma das atividades requer o uso de um aparelho eletrônico chamado clicker, que, conectado ao computador do professor, permite aos alunos responderem questões de múltipla escolha apresentadas em um telão apenas apertando um botão, após discutirem a resposta com os colegas.





Outra aposta pedagógica dessa metodologia alternativa de ensino é estimular o uso de habilidades cognitivas que costumam cair no esquecimento em sala de aula, como a capacidade criativa de contornar situações adversas, a análise das relações de componentes dentro de um sistema, a síntese de informações complexas e a capacidade analítica e de autoavaliação.


Rendimento comparativo

Em estudo publicado na revista Science desta semana, o método foi aplicado a um curso introdutório de biologia da Universidade de Washington. A pesquisa comparou o desempenho de jovens de um programa educativo da universidade, que oferece apoio a estudantes com baixa renda familiar e provenientes de escolas consideradas de menor qualidade, com o dos demais alunos regularmente matriculados. Tradicionalmente, os alunos do programa educativo apresentavam menor rendimento e desempenho, notas baixas e alto risco de reprovação.“O professor envolvido, o número de alunos por turma, as habilidades individuais e o grau de dificuldade das provas também devem ser considerados.”

Dos 29 módulos que compõem o curso introdutório, apenas dois foram – e continuam sendo – ministrados por meio do método alternativo de aprendizagem. O resultado foi a melhora no rendimento de ambos os grupos e a diminuição drástica na diferença de desempenho de alunos do programa em relação aos demais.

Segundo um dos autores da pesquisa, o zoólogo Scott Freeman, professor da Universidade de Washington, não apenas o tipo de aula está relacionado às diferenças no desempenho dos estudantes. “O professor envolvido, o número de alunos por turma, as habilidades individuais e o grau de dificuldade das provas também devem ser considerados”, pondera em entrevista à CH On-line.
Cotas brasileiras

No ensino brasileiro, o sistema de cotas viabiliza o acesso de estudantes de baixa renda e com formação em escolas da rede pública às universidades. O biólogo Waisenhowerk Vieira de Melo, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) – que possui sistema de cotas –, acredita que uma metodologia mais atenta às variações individuais e que atribua menor peso a avaliações únicas é importante para a formação do aluno.

Há uma carência na formação de professores que lecionem fora do modelo convencional de ensino. “Qualquer estudante que teve alguma deficiência no ensino médio e tem várias lacunas de conhecimento não é atendido pelo ensino tradicional”, ressalta o professor da Uerj.

Melo reforça que há uma carência na formação de professores que lecionem fora do modelo convencional de ensino. “Quem adota esse tipo de metodologia é porque já tem uma mentalidade diferente”, diz. Freeman acrescenta: “A formação do professor e o tipo de aula são determinantes para o desempenho do aluno.”

O autor da pesquisa acredita que esse tipo de aula veio para ficar e aposta na incorporação do método por meio de políticas públicas. “Esperamos que os governos estimulem a implementação dessa metodologia participativa e deem apoio aos professores que desejem mudar seu estilo de aula”, diz Freeman. “Meu desejo é que os alunos também comecem a pedir por isso”, completa.



Publicado em 02/06/2011 | Atualizado em 02/06/2011
Fonte: http://cienciahoje.uol.com.br/alo-professor/intervalo/2011/06/equilibrando-o-jogo

Nenhum comentário:

Postar um comentário